Famosos Prestam Últimas Homenagens a Cacá Diegues na Academia Brasileira de Letras
- Tony Antenado
- 17 de fev.
- 4 min de leitura
O Brasil se despediu de um dos maiores cineastas de sua história, Cacá Diegues, que faleceu na madrugada de sexta-feira (14), aos 84 anos. Seu corpo foi velado na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no centro do Rio de Janeiro, no sábado (15), e o evento atraiu diversas personalidades do mundo artístico e cultural que se reuniram para prestar suas últimas homenagens ao diretor, produtor e membro da ABL.

Entre os presentes estavam grandes nomes da TV e do cinema brasileiro, como Regina Casé, Camilla Pitanga, Marieta Severo, Silvia Buarque, Marcos Palmeira, Betty Faria, Gilberto Gil, Malu Mader e o próprio Guilherme Fontes, que se emocionou durante o velório. Cacá Diegues, um dos maiores ícones do Cinema Novo e um dos mais relevantes cineastas da história do Brasil, foi lembrado com carinho por aqueles que o conheceram pessoalmente e aqueles que o admiraram ao longo de sua carreira.
Entre os momentos mais emocionantes, o ator Guilherme Fontes, visivelmente abalado, foi consolado pela esposa, Vivi Sarahyba, enquanto a cerimônia seguiu. A despedida também contou com a presença de figuras do mundo político, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, por meio de uma nota, lamentou profundamente a morte de Cacá Diegues, destacando a importância de sua obra para a luta do cinema brasileiro e a representação do país no cenário internacional.
Após o velório, o corpo do cineasta seguiu para o Crematório do Caju, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, onde será cremado. A morte de Cacá Diegues, que deixou um legado cinematográfico inestimável, marca o fim de uma era para o cinema brasileiro.
A Vida e a Trajetória de Cacá Diegues
Nascido em Maceió, no dia 19 de maio de 1940, Carlos José Fontes Diegues, mais conhecido como Cacá Diegues, teve uma carreira que se estendeu por várias décadas e que atravessou momentos de transformações políticas e culturais no Brasil. Desde jovem, Cacá teve uma ligação profunda com a cultura e o cinema. Estudou no Colégio Santo Inácio e ingressou no curso de Direito da PUC-Rio, onde começou a se envolver ativamente com a arte e a política, presidiendo o Diretório Estudantil. Durante esse período, ele fundou um cineclube e deu seus primeiros passos na produção cinematográfica ao lado de outros nomes importantes, como David Neves e Arnaldo Jabor.
Sua trajetória no cinema começou a se consolidar no final dos anos 1950, quando ele foi um dos fundadores do Cinema Novo, um movimento cinematográfico que visava retratar a realidade brasileira de maneira crítica e inovadora. Foi ao lado de grandes nomes como Glauber Rocha, Leon Hirszman e Paulo Cesar Saraceni que ele começou a construir sua carreira. Em 1961, Cacá Diegues e seus parceiros dirigiram o curta-metragem Domingo, uma das primeiras obras do Cinema Novo.
No entanto, sua carreira de diretor solo começou de fato em 1962, com o episódio Escola de Samba Alegria de Viver, no longa Cinco Vezes Favela. Ele também se destacou como jornalista e crítico de cinema, escrevendo sobre o movimento e suas perspectivas, e se tornando uma figura central na crítica cinematográfica brasileira.
Com o regime militar e a promulgação do AI-5, Cacá Diegues e sua primeira esposa, a cantora Nara Leão, se exilaram na Europa, vivendo na Itália e na França. O retorno ao Brasil na década de 1970 coincidiu com o auge de sua carreira, quando ele lançou filmes que se tornaram marcos do cinema brasileiro, como Quando o Carnaval Chegar (1972) e Joanna Francesa (1973). Mas foi em 1976, com o filme Xica da Silva, que ele alcançou sucesso comercial e reconhecimento internacional.
Durante as décadas de 1970 e 1980, Cacá Diegues seguiu realizando obras aclamadas, como Chuvas de Verão (1978) e Bye Bye Brasil (1979). Em 1981, ele foi convidado a integrar o júri do Festival Internacional de Cinema de Cannes, um reconhecimento do seu talento e da importância de seu trabalho no cenário global. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras e a crise do cinema brasileiro na década de 1980, ele continuou a fazer filmes, com obras de menor orçamento, como Um Trem para as Estrelas (1987) e Dias Melhores Virão (1989).
Nos anos 1990, a carreira de Cacá Diegues voltou a decolar com filmes como Tieta do Agreste (1996) e Deus é Brasileiro (2003). Ao longo de sua carreira, Cacá Diegues foi indicado ao Oscar em sete ocasiões, o maior número de indicações de um cineasta brasileiro, o que confirma a relevância de seu trabalho para o cinema mundial.
O Legado de Cacá Diegues
Cacá Diegues não foi apenas um cineasta inovador; ele foi também um defensor da cultura brasileira e um crítico das desigualdades sociais do país. Seus filmes representaram a complexidade e a diversidade do Brasil, e ele soube retratar de forma sensível as questões políticas e sociais de seu tempo. Mesmo com os desafios enfrentados por ele durante a Ditadura Militar e as dificuldades financeiras do setor, ele se manteve firme em sua missão de contar histórias brasileiras, muitas das quais permanecem atemporais e essenciais para entender o Brasil.
Em 2018, Diegues foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, uma prova do seu reconhecimento não apenas no cinema, mas também na cultura literária e intelectual do Brasil. Ele deixa um legado cinematográfico profundo, marcado por sua dedicação à arte e à luta pela representação do Brasil no mundo.
Cacá Diegues também deixa a família, com três filhos, Isabel, Francisco e Flora, e três netos, que continuam a perpetuar o legado do cineasta e a memória de um dos maiores nomes do cinema brasileiro.



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